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O mercado de apostas esportivas no Brasil, liderado por plataformas conhecidas como “bets”, movimentou valores recordes em 2024, mas com um impacto preocupante: R$ 100 bilhões que poderiam ser destinados ao consumo de bens e serviços foram desviados para o setor, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Esse montante correspondeu a cerca de 3,3% do faturamento total do varejo no ano, que alcançou R$ 3 trilhões, conforme projeções da entidade.
Como o Mercado de Apostas Impactou o Consumo?
Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, explicou que as apostas esportivas representaram uma ruptura significativa nos padrões de consumo das famílias brasileiras. “O bolso do consumidor é um só. Em 2024, esse bolso incluiu um novo concorrente: as apostas esportivas. Isso reduziu os gastos em setores tradicionais, como farmácias, lojas de roupas, supermercados e até matrículas educacionais”, afirmou.
Os impactos foram além do varejo. De acordo com Tavares, o desvio de recursos para as apostas afetou decisões financeiras de longo prazo. “Relatos indicam que famílias deixaram de adquirir alimentos básicos, como proteínas, e jovens optaram por não se matricular em universidades para utilizar o dinheiro em apostas. Essa mudança no comportamento de consumo foi alarmante.”
Novo Cenário com a Regulamentação
A entrada em vigor da regulamentação do mercado de apostas, no dia 1º de janeiro de 2025, é vista como um divisor de águas. Após anos de debates e ajustes legislativos, o governo conseguiu aprovar a lei no ano passado, iniciada durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Agora, as empresas de apostas precisam ter sede no Brasil, pagar impostos e limitar suas operações a no máximo três portais por organização. Atualmente, 104 companhias receberam autorização do Ministério da Fazenda para operar legalmente.
O governo espera que a regulamentação traga benefícios fiscais e maior controle sobre o setor. Estima-se que a arrecadação de impostos poderá gerar bilhões para os cofres públicos, mas especialistas alertam que a tendência de aumento no volume de apostas poderá intensificar os impactos negativos no consumo e no comportamento das famílias.
Impactos no Varejo e na Economia
O ano de 2024 foi marcado por um cenário econômico favorável em termos de crédito e renda. Mesmo assim, o varejo enfrentou desafios inesperados devido ao crescimento exponencial das apostas esportivas.
Tavares destacou que o setor poderia ter registrado um crescimento substancialmente maior sem o desvio de recursos para as apostas. “Tivemos um ano de crédito farto, mas o varejo não captou todo o potencial disso. As apostas drenaram recursos que, de outra forma, seriam investidos em bens e serviços essenciais”, afirmou o economista.
Impactos Sociais e Próximos Passos
Além dos prejuízos financeiros, houve uma crescente preocupação com os efeitos sociais das apostas. O apelo emocional e psicológico das “bets” pode agravar problemas como endividamento e vícios. “Estamos vendo uma mudança no padrão de consumo que não é sustentável no longo prazo. O varejo precisa se reinventar para competir por essa fatia do orçamento das famílias”, disse Tavares.
Para 2025, a CNC prevê que o volume de apostas continuará crescendo, impulsionado pela regulamentação e pela popularidade das plataformas no Brasil. Isso exigirá ações coordenadas entre governo, setor privado e organizações sociais para minimizar os danos econômicos e sociais.
Conclusão: Reflexões Sobre um Ano de Grandes Mudanças
A regulamentação do mercado de apostas esportivas marca um ponto de inflexão. Embora possa trazer ganhos fiscais e maior controle, os desafios para o varejo e a economia como um todo permanecem. Com o crescimento contínuo das apostas, o Brasil se encontra diante de um dilema: como equilibrar os benefícios fiscais com os impactos negativos no consumo e na qualidade de vida das famílias?
O varejo, por sua vez, precisa adotar estratégias inovadoras para reconquistar os consumidores e recuperar parte dos R$ 100 bilhões perdidos em 2024. O futuro do setor depende de sua capacidade de se adaptar a esse novo cenário competitivo.