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Nos últimos meses, o café — item indispensável na rotina de milhões de brasileiros — viu seu preço disparar, tornando-se uma verdadeira preciosidade no mercado. De acordo com especialistas, a alta acumulada de 35% nos últimos quatro meses é apenas o início de um ciclo que pode se estender até 2025, levando o consumidor a repensar a maneira como desfruta de sua xícara diária. Este cenário de escassez e alta nos preços, similar ao que já ocorre com outros alimentos como o azeite de oliva, deve mudar completamente a dinâmica de consumo do café no Brasil e no mundo.
Por que o preço do café está subindo tanto?
A escalada no preço do café tem sido influenciada por uma série de fatores, entre eles a quebra da safra em algumas regiões produtoras, agravada por condições climáticas adversas. O Brasil, maior produtor mundial, enfrentou secas e geadas em regiões chave, como Minas Gerais e São Paulo, o que reduziu drasticamente a produção. O resultado foi uma oferta insuficiente para atender à demanda global, que continua alta, impulsionada especialmente por mercados como o da China e o dos Estados Unidos.
Além dos problemas climáticos, o aumento dos custos de produção e o dólar em patamares elevados também pressionaram os preços. Fertilizantes, pesticidas e a energia elétrica ficaram mais caros, o que encareceu o cultivo do café. De acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a safra de 2024 foi 10% menor que a de 2023, intensificando ainda mais a pressão sobre os preços.
Consumo pode cair com o preço nas alturas
Se antes o café era considerado um produto básico e acessível na mesa do brasileiro, agora a bebida começa a ganhar status de luxo. Segundo analistas do setor, o consumidor pode ser forçado a mudar hábitos, reduzindo o consumo ou optando por produtos de menor qualidade. O comportamento é semelhante ao que se observou com o azeite de oliva, cujo preço subiu tanto nos últimos anos que muitas famílias passaram a utilizá-lo com moderação.
“A tendência é que os consumidores migrem para marcas mais baratas ou até para misturas de café de qualidade inferior, já que os grãos mais nobres estão ficando inviáveis para o consumo diário”, explica o economista João Caffè, especialista no mercado de commodities agrícolas.
O aumento não é sentido apenas nas prateleiras dos supermercados. Cafeterias e restaurantes também estão sendo impactados, e muitos estabelecimentos já começaram a repassar o reajuste para o consumidor final. Um levantamento recente apontou que o preço médio de uma xícara de café nos principais centros urbanos do Brasil subiu 12% nos últimos três meses.
Impactos globais: da produção ao varejo
O cenário de alta não se restringe ao Brasil. No mercado internacional, o preço do café arábica, o mais consumido no mundo, também tem disparado. Em setembro de 2024, o contrato futuro de café arábica na Bolsa de Nova York chegou a ser negociado a 250 centavos de dólar por libra-peso, o maior nível desde 2011. Isso impacta diretamente o custo do café importado por países que dependem do produto brasileiro, como Alemanha, Japão e Itália.
Para os países produtores da América Central e da África, a alta dos preços poderia ser uma oportunidade de ouro para aumentar suas exportações. No entanto, o mesmo problema climático que afeta o Brasil também tem prejudicado suas safras, limitando a capacidade de atender a essa demanda crescente. Com isso, os estoques mundiais de café estão em níveis historicamente baixos, elevando ainda mais os preços.
Futuro incerto para o setor e para o consumidor
As previsões para 2025 não são animadoras. Com as incertezas climáticas e a expectativa de uma demanda ainda maior nos mercados internacionais, os preços devem continuar subindo. O aumento da demanda por café especial, que utiliza grãos de alta qualidade e técnicas de cultivo mais sustentáveis, também contribui para a elevação dos custos. Este segmento tem crescido, especialmente entre consumidores mais jovens, que estão dispostos a pagar mais por uma experiência diferenciada.
Por outro lado, o setor cafeeiro está buscando alternativas para minimizar os impactos da crise. Produtores vêm investindo em tecnologias que possam melhorar a eficiência da produção e reduzir a dependência de insumos importados, como fertilizantes. Além disso, há esforços em curso para aumentar a resiliência das plantações aos fenômenos climáticos extremos, por meio de variedades de café mais resistentes.
Conclusão: o café como símbolo de um novo luxo
O café, que outrora era um item popular e acessível, agora caminha para se tornar um produto cada vez mais caro e sofisticado. Se antes uma xícara de café quente era um conforto cotidiano, a partir de agora poderá ser um pequeno luxo reservado para ocasiões especiais, ou ao menos para aqueles que estão dispostos a pagar por ele.
Enquanto isso, o consumidor segue buscando alternativas e adaptando seus hábitos à nova realidade. Resta saber até onde os preços vão, e se, em breve, faremos fila nas lojas para adquirir não apenas as tradicionais cápsulas de café gourmet, mas também pacotes de grãos convencionais — agora com status de item premium. Afinal, nada como começar o dia com uma dose amarga… no bolso.