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Um novo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), divulgado a menos de um mês da COP29, revela que o planeta está em uma trajetória de aquecimento de 2,4°C, superando a meta de 1,5°C estabelecida no Acordo de Paris. Apesar do avanço significativo das fontes de energia renováveis, as emissões de gases-estufa devem permanecer altas, uma vez que a demanda por combustíveis fósseis ainda não apresenta uma redução acentuada.
O relatório destaca que, embora o consumo de combustíveis fósseis — como carvão, petróleo e gás natural — deva atingir seu pico antes do final desta década, a trajetória global das emissões não reflete uma queda brusca. Isso coloca o mundo em risco de enfrentar graves consequências climáticas. De acordo com o relatório, os eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas, inundações e tempestades, estão se tornando mais frequentes e severos, prejudicando a segurança dos sistemas energéticos.
Aumento das Energias Renováveis em Ritmo Recorde
Apesar das dificuldades, o levantamento mostra que a adição de fontes de energia renovável atingiu níveis recordes. Em 2023, foram instalados globalmente mais de 560 gigawatts (GW) de nova capacidade de energias limpas, com investimentos nesse setor atingindo cerca de US$ 2 trilhões. Esse valor é quase o dobro do que foi investido em novas fontes de petróleo, gás e carvão no mesmo período.
Esses investimentos impulsionaram o crescimento de energias como solar e eólica, o que poderá, segundo o relatório, elevar a capacidade global de geração de energia renovável para 10 mil GW até 2030 — mais que o dobro dos 4.250 GW atuais. Ainda assim, essa projeção fica abaixo da meta estabelecida na COP28, que visa triplicar essa capacidade até o final da década.
Desafios para a Transição Energética
O relatório ressalta que a transição energética não está ocorrendo de maneira uniforme. A China foi responsável por 60% da nova capacidade de energias renováveis adicionada em 2023, e sua produção de energia solar fotovoltaica pode exceder, até o início da próxima década, toda a demanda atual de eletricidade dos Estados Unidos. Contudo, há incertezas sobre como essa nova capacidade será integrada ao sistema elétrico global.
Em outras regiões, especialmente em economias emergentes, a incerteza política e o alto custo de capital estão retardando o desenvolvimento de projetos de energia limpa. Além disso, questões como a expansão da rede elétrica e os processos de licenciamento permanecem como obstáculos significativos para a aceleração da transição.
Impacto da Demanda por Eletricidade
A demanda global por eletricidade também está em alta, crescendo a um ritmo duas vezes superior ao da demanda total por energia. A China foi responsável por dois terços desse crescimento na última década. Além disso, o uso de tecnologias emergentes, como data centers e inteligência artificial, está começando a aumentar o consumo de eletricidade, embora ainda represente uma pequena fração do crescimento geral.
Geopolítica e Combustíveis Fósseis
Fatih Birol, diretor executivo da AIE, observa que a segunda metade desta década pode trazer um cenário de abundância de petróleo e gás, dependendo das tensões geopolíticas. Isso poderia aliviar os preços dos combustíveis, mas também oferecer uma oportunidade para os formuladores de políticas redirecionarem os investimentos para fontes de energia limpa e removerem subsídios ineficientes para combustíveis fósseis.
Essa “folga” nos preços pode dar aos governos a chance de acelerar a transição energética, evitando os piores impactos das mudanças climáticas. Contudo, o relatório adverte que, sem políticas adequadas e decisões estratégicas, as consequências para o setor energético global e o futuro do planeta serão graves.
Conclusão
Embora as energias renováveis estejam crescendo rapidamente e os investimentos nesse setor estejam em expansão, o mundo ainda enfrenta desafios significativos na transição para um futuro mais sustentável. O aquecimento de 2,4°C, projetado no relatório da AIE, indica que as metas globais de combate às mudanças climáticas estão longe de ser atingidas. Com a COP29 se aproximando, o foco agora estará em como os líderes globais responderão a esses desafios e se conseguirão acelerar as ações necessárias para evitar as piores consequências climáticas.